sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MULTIPLICANDO AS TRANSFORMAÇÕES

Matéria publicada no Jornal Universitário - UFSC de Agosto de 2011, n. 419.

A solenidade foi ao encontro do que Gersen Baniwa defende: que o curso transforma seus alunos, mas também a sociedade e a Universidade. O hino nacional foi cantado por alunos Kaingang - metade entoado em sua língua nativa e a outra metade em português; houve espaço à homenagem a Natalino Crespo - feita de acordo com as tradições de sua tribo - companheiro que os incentivou a ingressar no curso e que faleceu no dia 2 de março, e o mestre de cerimônias não deixou de lado os caciques, quando registrou a presença das autoridades. Os detalhes demonstram as modificações sutis que a Universidade começa a ensaiar.
"A UFSC não estava e nem está preparada para recebê-los. Mas a forma de nos adequar é vivenciar e aprender, aperfeiçoar a cada dia", atesta o reitor. "Faço dois pedidos: que tenham compaixão com nossa instituição, perdoando nossas falhas, apesar de nossa boa vontade, e que exultem-se a si próprios, sendo bons alunos".
O curso, que vinha sendo gerado desde 2007 pela Comissão Interinstitucional para Educação Superior Indígena (CIESI, formada por integrantes da UFSC, organizações representantes dos povos indígenas e entidades parceiras), é um dos 26 do Brasil oferecido exclusivamente aos povos indígenas, e ajuda a somar cerca de oito mil índios no ensino superior. O presidente da FUNAI, Marcio Augusto Freitas Meira, explica que esse número só tende a crescer. "De acordo com o IBGE, temos hoje no país cerca de 817 mil índios". Isso significa que nos últimos dez anos a população indígena cresceu mais de 10%, número superior aos das pessoas que se declaram brancas, negras ou pardas. "Já escutei muito, também em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, a frase 'aqui não tem índio'. Por isso o curso vai além da educação: é também político. E essas novas gerações que fizerem o ensino superior poderão contribuir de forma mais efetiva com a construção do país", defende.

IGUALDADE NAS DIFERENÇAS

A professora Roselane Neckel ratifica a fala do presidente da FUNAI: "este momento significa a inclusão desses cidadãos na sociedade, a partir de seu ingresso na Universidade". A diretora do CFH vai além. "Em um país de diferenças tão profundas, não podemos tratar da mesma forma a todos, como se todos tivessem condições iguais", afirmou, mencionando em seguida as políticas públicas de permanência que a Universidade destina a alunos oriundos de escolas públicas, negros e indígenas, e reafirmando a disposição da UFSC em buscar meios de viabilizar, junto com a FUNAI, bolsas de estudos a esses alunos.
A equidade também foi mencionada por Analúcia, que ainda relembrou o saudoso professor Silvio Coelho dos Santos como orientador nos estudos das questões indígenas - homenageado anteriormente pela professora Dorothéa Darella, que o apontou como baluarte da antropologia em questões da área. "Quando trabalhei junto a tribos, contava-se nos dedos quantos falavam fluentemente o Kaingang.'Só se pegarmos à força esse indiozinhos', me diziam os mais velhos. Não existia a valorização dos índios e de sua cultura".
Hoje, de acordo com a procuradora, a Secretaria de Educação de SC já reconhece as diferenças e as estimula, orientando escolas e professores.
"Agora os alunos são liberados para os cultos junto com seus pajés, e há horários e merendas diferenciados", relata.

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